sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Triunfo – Não morra de amores (5 de 5)



O sol já tinha nascido há três horas e Linda Grant ainda não atendera o telefone. O sargento Alex Drake já havia procurado pela parceira no apartamento dela, na delegacia e em um restaurante onde ela tomava café da manhã todos os dias. Nada. Não se sabia nada da detetive desde que ela e Drake trocaram olhares na noite anterior.

O policial decidiu refazer os passos da mulher por quem se apaixonara. Foi até o Single’s Pub e procurou por Gary, o gerente. Ele disse não se lembrar a que horas ela partiu, mas garantiu que muitos vão embora sem esperar pelo resultado das fichas. “Talvez ela tenha ido atrás de uma dessas pessoas assim que os encontros-relâmpago acabaram”, disse o homem de trejeitos afeminados. Drake sabia que era exatamente isso o que tinha acontecido e perguntou pelo homem louro, magro e alto com o corte na mão. “O nome dele é Paul”, comentou o gerente. “Isso é praticamente tudo o que eu sei. Sempre toma um drinque depois dos encontros e vai embora sem saber dos resultados. Ele devia ficar mais. Sou um gênio em unir pessoas, sabe? Sem muita dificuldade poderia dizer que você e sua parceira têm um futuro interessante à frente. E vocês nem preencheram as fichas”, Gary sorria maliciosamente.

Em um computador, Gary puxou o cadastro do suspeito. Havia nome completo, endereço e mais alguns detalhes pessoais. Drake tinha tanta certeza de que nada daquilo era verdade que nem se deu ao trabalho de investigar pessoalmente. Pelo telefone, pediu ajuda para o perito Ted. Em poucos minutos, recebeu a confirmação que o único com o nome era um garoto de sete anos e o endereço correspondia a um terreno baldio. O sargento então pediu para que o gerente imprimisse a foto do suspeito.

Em um banco de praça, acompanhado de um café, Drake tentou organizar os pensamentos. “Seria bom ser como o Major Triunfo e poder voar por toda a cidade até achar Linda”, o sargento disse para si mesmo. A única coisa que ele sabia sobre o assassino era sua assinatura: flechas de balestra. Alex julgou que este era um bom ponto para começar.

Com a foto na mão, ele foi a três lojas que vendiam artigos esportivos, entre eles arcos, flechas e balestras. Nos dois primeiros não deu sorte, mas no terceiro encontrou alguém que parecia conhecer o suspeito. “O nome dele é Andrew, acho”, disse o vendedor, que não tinha mais do que vinte anos. “Já faz um bom tempo que não o vejo, mas tenho certeza que ele esteve aqui algumas vezes. Procurava flechas, equipamentos de caça esportiva, coisas do tipo. Me lembro que ele comprou muitos alvos e cavaletes, coisa grande, e pediu para entregar na casa dele. Eu trabalhava nas entregas nessa época. A loja é do meu pai, então já fiz de tudo por aqui. Se eu não me engano, ele morava em uma cabana na beira do Blue Lake, perto dos centros gastronômicos.”

Aquilo fazia sentido. Estava diferente da descrição de Ted, mas era aceitável. Em uma região turística, são poucos os frequentadores constantes que conseguem reparar padrões de comportamento suspeitos. Além disso, o barulho constante dos restaurantes e bares poderia ocultar qualquer grito e o sangue jogado no lago se dissolveria rapidamente, sem chamar atenção.

Alex pediu ajuda ao comissário Fisk para invadir a cabana e resgatar Linda, mas como o caso do Cupido não estava oficialmente aberto não havia nada o que ele pudesse fazer. “Mande o cretino do Major Triunfo com a imprensa então!”, gritou o sargento antes de desligar na cara de seu superior. Sozinho, ele foi para o lago procurar a cabana.

Não foi difícil deduzir o local. Havia cerca de dez cabanas na região mais turística, mas a maioria tinha as portas e janelas abertas, deixando claro que ninguém era mantido cativo dentro. Um dos imóveis, porém, estava totalmente lacrado, sem qualquer luz escapando pelas frestas. Drake tinha certeza que aquele era o lugar.

Com um chute, foi fácil para o sargento arrombar a porta. O lugar não oferecia grande resistência para alguém que tentasse invadi-lo. No escuro e com arma em punho, Drake explorou a cabana em busca de alguma dica de onde Linda e o Cupido pudessem estar. Não achou muito. Mas notou que uma porta dos fundos estava entreaberta. Pelo vão, viu o homem louro, magro e alto do dia anterior mexendo no porta-malas de um carro parado na beira do lago. O policial precisava achar rapidamente a parceira.

Toda a cabana estava muito empoeirada. Provavelmente o assassino não morava ali, só usava o lugar para matar suas vítimas. Um detalhe despertou a atenção de Drake. Um tapete na sala não tinha qualquer sinal de poeira e parecia ter sido desenrolado há pouco tempo. Alex afastou o tapete e achou uma espécie de alçapão que dava para uma sala escura. A Nona Sinfonia de Beethoven tocava bem alto.

Quando desceu a frágil escada para o porão, viu Linda Grant iluminada por algumas velas. Seu coração tropeçou de repente. Ela estava desacordada, amordaçada, com os pés amarrados e as mãos presas em um gancho no teto. O sargento correu para libertá-la e começou soltando suas mãos. Linda despertou sobressaltada, achando que era o Cupido, mas se acalmou ao ver Alex. Seus olhos quase sorriam. Drake ficou feliz com a reação da mulher, mas logo se surpreendeu com os olhos arregalados dela.

Som de alguém descendo a escada. Drake se vira, apontando a arma, mas é surpreendido. Uma flecha voa em sua direção e fica cravada em seu ombro direito. A arma escapa de sua mão e seu corpo é projetado para trás. A cabeça de Alex se choca contra uma parede. A visão fica turva. Fica escura. Ele apaga.
As mãos livres eram tudo o que linda precisava desde o começo. Mesmo com os braços fracos e dormentes, ela consegue arrancar a mordaça e as cordas dos pés. O Cupido demora a atacar. Está tentando encaixar uma nova flecha na balestra. Grande erro. Uma das primeiras lições do Cavaleiro Prateado foi sobre armas. Nunca use nada que precise ser recarregado. Evite coisas que vão te deixar na mão. Espadas, punhais e os próprios punhos são os melhores instrumentos em uma batalha.

Quando a flecha finalmente está no lugar certo, Linda já está muito perto do assassino. O Cupido podia parecer ameaçador para uma pessoa comum. Mas ela foi a Garota-Lebre. Passou anos enfrentando gente como o Doutor Destruição e a Serpente Humana. O homem louro só conseguiu captura-la porque ela realmente não esperava que ele a abordasse de maneira tão rápida. Ficou atônita na saída do Single’s Pub, deixando espaço para que o assassino a derrubasse com um lenço molhado em clorofórmio. Ele não teria outra chance como aquela.

O Cupido atirou em Linda, mas ela conseguiu desviar. O golpeou duas vezes no peito e nas costas, até que um chute no pescoço o deixou desacordado, caindo sobre a vitrola. A cabana voltou a ficar silenciosa.
Drake acordou quando os paramédicos chegaram para cuidar de seus ferimentos. Encontrou Linda muito forte, bem diferente da mulher amarrada que estava naquela cabana quando ele entrou. O Cupido, que todos chamavam naquele momento de James Cobb, estava desmaiado e algemado no banco de trás de uma viatura. O comissário Fisk dava entrevista a uma jornalista, falando sobre o importante trabalho da polícia de Blue Lake City na captura de Cobb.

Na ambulância, o sargento se esforçava para permanecer consciente. A dor da flechada no ombro era muito grande, mas o pior era a pancada na cabeça. Com dois paramédicos na traseira, o veículo partiu. Mas logo parou. As portas de trás se abriram e a policial Grant entrou sorrindo. “Você ia me abandonar nessa festa?”, ela segurava a mão do parceiro. "Vamos tentar não morrer de amores um pelo outro, está bem?"

"Acho que já é tarde demais para isso", disse Drake. Com ela por perto, ele se permitiu dormir novamente.

Na manhã seguinte, Linda levou o Blue Lake Chronicle para o quarto de Alex no hospital. Deitados juntos na cama, eles folheavam as páginas. Havia apenas uma pequena nota sobre a captura do Cupido, na página doze, que não citava o nome de nenhum dos dois. Eles não se importavam. Na capa, uma foto do Major Triunfo enfrentando uma pantera verde gigante.

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