sexta-feira, 10 de maio de 2013

Minicontos

Decidi juntar alguns minicontos que eu escrevi há dois anos e expô-los aqui.
Se pintar mais algumas mini-ideia eu faço outro post.


1
Eram loucos um pelo outro; não podiam se desgrudar. Toda a cidade comentava que jamais vira gêmeos siameses como aqueles.

2
Por não apoiar a Revolução Francesa, foi taxado de louco pela família. Estavam certos: acabou perdendo a cabeça.

3
Com três tiros, matou um vizinho por causa de um empréstimo. Arrependeu-se. A morte impediu que o homem saldasse sua dívida.

4
A garota de programa sempre brigava com o namorado, também garoto de programa. Nunca concordavam sobre quem pagaria a conta.


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Haikai 2


você ainda lembra
quando de ti eu desistira?
era só mentira

sexta-feira, 22 de março de 2013

Haikai 1


jogo fora a dor
mas guardo aqui o sofrimento
pra depois compor

quinta-feira, 21 de março de 2013

Poema concreto 1



é,
me
ni
na,
um
dia
você
vai ver,
eu ainda
fujo daqui.
entro        num
avião e       vou já
para Paris. e nem se você
 chorar, nem se você pedir eu
refaço minhas malas e volto para
esse país. sei que        vai ser sofrido, mas
vai ser muito melhor         assim. mesmo que não
seja melhor para você. mesmo que não seja melhor para mim

terça-feira, 19 de março de 2013

Contra-poema 3



promessas para o ano novo:

vou adotar um gato
vou trocar de sapato
vou andar de bicicleta
vou virar um atleta
vou tocar violão
vou falar alemão
vou arrumar um trabalho
vou provar queijo coalho
vou estudar economia
vou consertar a pia
vou visitar a Venezuela
vou dizer que amo ela
vou ler Don Quixote
vou dançar fox trot
vou aprender a sorrir
vou parar de mentir


* Foto: Fireworks, le bouquet, do gênio Man Ray

quinta-feira, 14 de março de 2013

Contra-poema 2


poeta é aquele
que não teme falar de si
que expõe os próprios problemas
como se fossem os males do mundo

poeta é egocêntrico
é ególatra
um pouco niilista
e demasiado romântico

poeta é emoção
poeta não tem razão
e o poeta quando é bom
deixa sangrar o próprio coração

por isso eu sou um cronista

segunda-feira, 4 de março de 2013

Poema natimorto 2


calipígia miragem
num vestidinho cor-de-rosa
para olhos gulosos
paisagem saborosa
coxas torneadas
seios turbinados
olhar lascivo
passivo, depravado
do alto de saltos altos
para baixo dos sonhos mais baixos
ela desfila apoteótica
hipnótica alegoria
que na alegria dos transeuntes
abutres aparvalhados
se torna fantasia carnavalesca
odalisca burlesca
girafando em seu rebolado
trotado eqüino
ela é presa fácil
dócil felino
com a cauda abanando
cumprimentando os espectadores
de sua apresentação mágica
estonteante, pornográfica
olham porteiros, motoristas
taxistas, pedreiros
ela passa e sorri
mal sabem que é um travesti