terça-feira, 16 de setembro de 2008

Lacunas


Os livros, aos poucos, iam sumindo das prateleiras. Antes que se pudesse perceber, as fotos desapareciam. Na agenda telefônica, os nomes clareavam. Com o tempo, desapareceriam as cores da parede, o cheiro da comida no forno, a sensação de beber água. A cadeira confortável desapareceria e Lúcio seria arremessado ao chão, despencando entre lacunas de um passado que, agora, parece não mais existir. Ele já foi um homem comum, habilidoso com as letras, ativo o suficiente para que a notícia da doença chocasse a todos que o conheciam. Hoje, ele não passa de uma caricatura sem graça do homem majestoso que já foi. Carregado pela casa, cruzando os cômodos nos braços de alguém, ele nem tem noção do que se passa. Fica apenas observando, com os olhos opacos, sem expressão, o mundo ao seu redor. Pessoas de quem ainda se lembra, parentes que parecem com outros parentes. Um mundo em branco que não poderá ser reescrito.

Há muitos anos, Lúcio foi um exemplo. Era capaz de puxar pela memória os eventos mais distantes. A família o desafiava a lembrar o dia em que o primo nasceu, onde foi o casamento da irmã, o que foi servido na festa dos pais. Não havia conhecimento que não estivesse ao seu alcance. Além da boa memória, também era muito inteligente. Sabia o que tinha aprendido na escola quando garoto. Até de química, a disciplina que mais detestava, era capaz de desenhar uma cuba eletrolítica e mencionar elementos químicos e seus respectivos números. Graduou-se em Direito, por pressão da família, mas realmente gostava de ser advogado. Defendeu diversas causas, com a maestria de alguém que deveria ter sido ator. Gesticulava, fazia pausas, falava com graça. Abandonou a advocacia, somente, quando decidiu ser juiz. Nesta mesma época, escreveu alguns livros de poesias e chegou a receber prêmios por eles. Criou uma grande família. Casou-se apenas uma vez, com Marlene, com quem teve quatro filhos. Viu cada um deles crescer, deu boa educação, ensinou diversas línguas, foi o mais presente que poderia ser. Quando todos ficaram adultos, ele constatou o bom trabalho que fez. Os filhos lhe deram, até agora, três netos. Um ainda é tão pequeno, que nem aprendeu a falar. Morou com a mulher em seu pequeno apartamento por quase cinqüenta anos. Sofreu quando ela partiu, deixando-o sozinho nesta vida. Os filhos ainda tentaram animá-lo, alegando que era o melhor, que ela estava bem, que ele deveria ser forte. Lúcio superou a morte de Marlene e se reergueu. Já aposentado, voltou a trabalhar, escreveu mais livros, viajou pelo mundo, passou seu conhecimento para mais pessoas. Onde quer que fosse, Lúcio era tido como um líder, alguém pelo qual nos deixamos guiar. Foi grande entre os colegas, imenso entre os amigos, majestoso em casa. Era capaz de fazer qualquer pessoa superar os próprios obstáculos. Foi sedutor quando solteiro, fiel quando casado. Forte, destemido, adorava se aventurar, experimentar coisas novas. Mantinha contato com todas as pessoas. Era o único do edifício que cumprimentava a todos os vizinhos. As mulheres reclamavam com os maridos que queriam que eles fossem um pouco mais parecidos com Lúcio.

Deitado em uma cama que não atende às suas necessidades, ele sente a comida entrar pela sonda nasogástrica. Não há como se queixar. De tempos em tempos alguém aparece para ver o que está acontecendo. Muitas vezes ele nem percebe. Apenas fica ali, deixando-se levar pelo reflexo do sol na parede branca, tentando compreender o que é aquilo. Em posição fetal, com o corpo extremamente debilitado, esquálido, ele em pouco lembra a figura que foi. O rosto fino, de bochechas fundas, faz as pessoas pensarem no que se passa com ele. Nem mesmo os olhos – olhos de estátua, pétreos, imóveis – podem denunciar a claustrofobia de estar dentro daquela carcaça. Sem pensar, ele apenas observa o tempo passar e a morte dar mais um passo.

Lúcio nasceu pobre, estudou com sacrifício e conseguiu conquistar seu espaço. Ganhou algum dinheiro, que empregou no bem estar de quem gostava. Para a mulher, deu tudo o que podia. Ela nunca trabalhou e nunca faltou nada para seu conforto. Ele dizia, que se preciso fosse, trabalharia vinte e quatro horas por dia para que ela fosse uma pessoa feliz. A garra e a alegria do pai fizeram com que, dos quatro filhos, três decidissem seguir seus passos como advogado. Apenas a mais nova quis algo diferente. Optou pelo teatro e foi claramente apoiada pelo pai, orgulhoso da ousadia da menina.

A aposentadoria que ganha é o suficiente para atender às necessidades. Ele hoje depende da ajuda dos filhos para tudo. Quando morrer, não vai deixar nada, exceto o exemplo que tentou passar no decorrer de sua vida. Foi exemplo como filho, como marido, como pai, como pessoa. Não havia nada que ele não fizesse rindo. Se divertia com mergulho submarino ou com palavras cruzadas. Poderia dançar em um restaurante chileno ou num bingo de igreja. Jamais alguém conhecerá um homem tão feliz e tão admirado quanto Lúcio. A doença foi surgindo aos poucos. No princípio, parecia implicância. Depois, loucura. A família só descobriu o mal quando já era tarde. Todos já haviam dito coisas das quais se arrependeriam, atitudes que não poderiam ser ignoradas. Lúcio foi regredindo. Deixou de ser forte, deixou de ser Lúcio, deixou de ser gente. Chorava por qualquer motivo, repetia as palavras, deixava de falar. A casa foi ficando triste, pesada, as paredes foram ficando cinzas e agora estão brancas e em pouco tempo nem paredes serão. Lúcio não pode mais andar, não pode mais falar, não consegue engolir. A posição em que fica lhe trás feridas por todo o corpo. Não fala, não se expressa. Só respira porque é involuntário.

Em alguns anos de vida, ele foi casado com alguma mulher, teve alguns filhos, alguns netos. Trabalhou em algum lugar, gostava de algumas coisas, era alguém. Agora, as lacunas roubam tudo o que ele foi e por mais bravo que tenha sido em vida, as pessoas apenas o lembrarão como essa lacuna vegetativa que agora repousa pacífica sobre um passado glorioso. Seus olhos são fechados quando o mundo adormece e fica apenas a saudade, que aos poucos dará lugar a outra lacuna que só trará insegurança e tristeza quando seu nome for invocado.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

No escritório

Sentado em sua mesa, o chefe a observava. A secretária arrumava a sua mesa cheia de quinquilharias. Cantarolava alguma coisa enquanto levantava os bibelôs para tirar a poeira da mesa. Arrumava o porta-lápis, alinhava o mata borrão e rasgava os papéis velhos como quem assiste a um filme de classificação livre. O sorriso nos lábios, o brilho no olhar, a alegria em fazer as coisas. Todos os dias, alguns minutos antes do almoço, a secretaria começava seu ritual.

De rituais, a mulher estava cheia. Começava na hora em que chegava. Entrava calmamente na repartição, colocava a bolsa sobre a cadeira, cumprimentava a todos os presentes e colocava um pedaço de bolo na mesa do chefe. Só então ia bater o cartão. De volta à mesa, ela se sentava, colocava meticulosamente a bolsa sobre um tapetinho debaixo da mesa, levantava um pouco a cadeira, depois a abaixava, tendo a certeza de que estava no mesmo lugar. Da bolsa, ela tirava um estojo com mais de uma dúzia de canetas. Todas — cada uma de uma cor — eram alinhadas sobre a mesa. A secretária escolhia qual iria usar no dia e depositava as demais no porta-lápis. Estalava os dedos e recostava-se, sempre com aquela cara de quem está prestes a assobiar.

O segundo ritual era quando o chefe chegava. O homem, muito ocupado e, geralmente, mal humorado, ia direto para a sala. Não passava mais de um minuto e a secretária chegava sorrindo, perguntando se ele havia gostado do bolo. Não houve uma só vez em que ele já tivesse provado o quitute quando a mulher entrou. A secretária dava seqüência à ladainha perguntando pela esposa do patrão, pelas duas filhas e pelo cachorro, que ela adorava, porque tinha o mesmo nome que seu marido. Cantarolando, ela pegava o casaco e o chapéu do chefe e colocava na arara. Voltava para a mesa com a mesma cara satisfeita que tinha chegado.

Assim que o trabalho começava, vinha o novo ritual. A secretária pegava todas as pastas e arquivos que ia usar no dia e dispunha todos em sua mesa, numa pilha. Depois, alinhava-os à esquerda. Com uma régua, afastava seus títulos em cinco centímetros, para que soubesse onde cada pasta estava. Tirava um pequeno bloco da bolsa, onde fazia as pequenas anotações, sempre muito rabiscadas. Passado algum tempo, ele tirava um caderno azul da gaveta, que tinha um desenho na capa feito pelo filho mais novo. A secretária passava tudo a limpo com o máximo capricho possível, fazendo pequenas anotações de rodapé. Só então, o trabalho ia para o computador. Quando estava lendo qualquer coisa, a mulher batia com a tampa da caneta na mesa. De dentro da sala, o chefe não conseguia fazer mais nada.

Dez e trinta era a hora de ir ao banheiro. Não era por volta de dez e trinta, mas na hora exata. O organismo da secretária funcionava como um relógio, tão sistemático quanto ela mesma. Ela se levantava, colocava a cadeira de volta no lugar, ajeitava as sandálias nos pés e saía. Na volta, puxava a cadeira, batia com a mão no acento e acomodava-se. Da gaveta, ela tirava uma loção, que esfregava nas mãos por alguns minutos. Quando terminava, dava uma olhadinha para trás, para a sala do chefe, para garantir que estava tudo em ordem.

Durante o dia, a secretária fazia três ligações. A primeira era de manhã bem cedo, um pouco depois de chegar. Ela acordava os filhos, lembrava que estava quase na hora de ir para o colégio e que eles deveriam escovar os dentes e tomar banho. Antes do almoço, ela ligava pra o marido, certificando-se que ele comeria algo saudável, que não atacasse sua úlcera. Antes de ir embora, ela fazia a última ligação, interurbana, para a mãe que morava no interior, avisando que estava saindo do trabalho e que ligaria assim que chegasse em casa para por a conversa em dia.

Na hora do almoço, a secretária era a única que não descia para o restaurante da empresa. Comia ali mesmo, sobre sua mesa, alegando que tinha muito trabalho e pouco tempo a perder. Tirava da bolsa uma toalha branca, bordada por ela quando estava grávida, e estendia sobre os arquivos e pastas. Tirava de uma sacola um prato de louça, talheres com cabo de madeira e duas embalagens plásticas. Da primeira, a secretária tirava a salada, sempre a mesma, com alface, cenoura, tomate e repolho. Jogava um pouquinho de sal e comia. Em seguida, abria a segunda embalagem, onde sempre estava uma panqueca de carne de soja moída, arroz integral e um ovo cozido. Quando terminava, guardava as embalagens, dobrava a toalha e seguia sorridente para a copa, onde lavava os talheres e o prato.

De sua sala, o chefe observava todas as manias da secretária, irritado com os sorrisos e a aparente felicidade, mas sem achar um erro sequer. A mulher trabalhava muito bem, era competente, incentivava outros funcionários e fazia bolos maravilhosos. Por mais que ele estudasse algo para reclamar, o único problema dela era estar sempre contente. O patrão inventava coisas loucas para a mulher fazer, mandava-a a outros andares a toa, dava serviço dos outros e a secretária simplesmente piscava o olho esquerdo e voltava ao trabalho. Nem o mais cáustico dos obstáculos impedia aquela mulher de sorrir. O carrancudo patrão começou a levar a questão para o lado pessoal. Resolveu que atrapalharia a todas as cerimônias diárias da secretária.

Seu primeiro ato foi retirar o telefone da mesa da mulher. Quando um colega ofereceu seu celular para que ela acordasse os filhos, a mulher respondeu: "não precisa, obrigado, eles já estão bem crescidinhos, já podem se levantar sozinhos", e riu satisfeita e orgulhosa. Depois do almoço, a secretária passou a escrever cartas para a mãe, incapaz de ligar para dar um alô. Em vez de se abalar, ela apenas mudou suas manias. Ainda insatisfeito, ele proibiu que os funcionários comessem no escritório. Ou desceriam para almoçar, ou seriam obrigados a jejuar. A secretária não desceu. Ficou lá em cima, trabalhando no tempo vago. Se não fosse suficiente, ela ainda se orgulhava da nova silhueta, alguns quilos mais leve, resultado dos dias sem almoço. A secretária cantarolava sorridente. A questão foi ficando mais séria e o chefe decidiu desafiar o organismo da mulher. Determinou que todos os dias, por volta das dez e vinte, ela deveria organizar os arquivos de sua sala. O trabalho durava, pelo menos, meia hora, o que impedia que a secretária fosse ao banheiro na hora de costume. Sem se abalar, ela habituou-se à falta de horário para suas necessidades.

Sem se dar conta da guerra que travava com o patrão, a mulher foi vencendo todas as batalhas. Passo a passo ela demarcava seu espaço na empresa. Aos poucos, o chefe teve que recuar. Como medida desesperada, resolveu que a mandaria embora, pelo simples fato de não poder conviver com pessoa tão alegre. Passou o dia todo planejando o ato, o que diria, o que faria. Alguns minutos antes da saída, ele chamou a secretária em sua sala. Ela pediu um momento, arrumou sua mesa, ajeitou a cadeira e foi atendê-lo. No meio do caminho, deu uma topada na porta e deixou escapar um “putaqueopariu”. Entrou na sala séria, irritada com o susto e com a reação. "O que foi, senhor?", ela perguntou carrancuda. O patrão pôs as mãos atrás da cabeça e abriu um largo sorriso, quase uma gargalhada silenciosa. "Não foi nada", respondeu, "nada mesmo".

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Terça-feira


Havia algo de novo, mesmo que todo ano fosse igual. Aquela menina eu não conhecia, ou conhecia?, era difícil dizer. Ela se protegia com uma máscara branca sobre a face, mas lá estavam seus olhos verdes me espiando de longe. Por mais que eu tentasse manter a concentração, aquela moça não deixava. Se aproximava e se afastava e voltava a se aproximar. Fiquei completamente hipnotizado com seus quadris, mas nada fiz senão olhar. E ela devagar - a cadência era perfeita, pode acreditar - me chamou para um canto e fez que não era com ela quando eu fui atrás. A verdade é que por aquele par de olhos, que escapavam do rosto alvo imóvel, eu andaria toda uma avenida.

- Qual o seu nome?, gritei no meio do mar de gente e das ondas de som do salão.
- Para quê?, rebateu.
- Seu nome... Eu quero saber.
- Hoje não é dia para isso.

Era verdade. Um ano tem cerca de cinqüenta e duas terças-feiras, mas em uma o mundo era outro. E nem estou falado do mundo todo, só de um pedacinho perdido ao lado da Guanabara. Estava na hora de evoluir, mesmo se ela não quisesse. Fui me chegando e quando a minha mão estava quase nas mãos dela, fez-se uma chuva colorida que me cegou por um instante. E lá estava ela de volta ao meio do salão.

Minha deixa... Dois para lá, dois para cá, me dá chupeta, mas que calor. Ainda que tímido, cheguei tão perto que já dava para sentir o perfume exalando de seu pescoço. Havia um bom punhado de purpurina, que lhe brilhavam a pele macia que eu pude sentir quando me aproximei e deixei meu corpo levemente tocar o dela. Marchamos um bocado, coxas nas coxas, mas ela nem me olhava. Pelos olhos apertados, eu vi que ela ria e ria de mim.

- Eu te conheço?, indaguei.
- Essa não é a questão!
- E qual é?, deixei escapar trêmulo e curioso.
- Se você quer me conhecer…

Ah, ela sabia bem qual era a resposta, nem perdi meu tempo montando uma sentença. O problema estava bem diante de mim, me separando dela. Uma fina camada de plástico que nos afastava de todas as formas possíveis.

Ela mexia e descia e requebrava, enquanto seus cabelos dourados voavam pelo salão tal serpentina. Era preciso força, botar o bloco na rua. Me vesti de uma persona que não era eu, agarrei seu braço e lá foi a máscara embora. Ela tinha um narizinho perfeito, maças rosadas e covinhas nas bochechas. Os lábios eram únicos, o inferior carnudo, o superior mais fino. E vermelhos, muito vermelhos.

Quando a máscara voou, ela levou um susto. Ficamos assim, sérios, parados no meio da correnteza de tanta gente. Eu admirando, ela sendo admirada. Foi quando ela percebeu que eu não tinha palavras. Apenas sorriu e se virou e eu sempre atrás dela, não importa para onde.

Na perseguição que ela tanto gostava, acabei ficando para trás, quando um trenzinho de mais de vinte vagões ficou no caminho de minha caçada. A harmonia desandou e eu fiquei claramente nervoso. Tentava vencer a folia, transcender a barreira que se construía cada vez mais forte à minha frente. Quando olhei para o lado, lá longe, reparei que o trem ganhava vagões e mais vagões. E eu ainda inerte, esperando minha vez de passar.

Ela era o destaque, não tenha dúvidas. Com os pés no chão (tinha uma belíssima tornozeleira, tive tempo de notar) ela chamava atenção, e não só a minha. Lá de longe, um gatuno, um pirata, apareceu para saqueá-la. Tentei correr para o resgate, mas de nada adiantou. Ela estava muito distante, inalcançável.
- Pare!, gritei, mas a cabeleira do Zezé abafou meu apelo.

Pensei que ela seria forte, que lutaria por mim, mas a quem eu estava enganando, apenas um bobo cortejando uma princesa. O perverso me olhou com um olho só e deu uma gargalhada, antes de desferir seu golpe mortal. Mas quanto iria tentar enganchá-la, lá estava ela, de volta à dança frenética e ao rebolado fulminante.

Seus passos - as solas dos pés pretas, mas ainda assim lindas - a trouxeram de volta para mim. Ainda fazia seu charme, olhando para lugar nenhum, fingindo que apenas a bateria a empolgava, mas foi só o vilão chegar para que ela chegasse mais perto de mim e se deixasse perder em um gostoso abraço.

Confesso que passei longos minutos torcendo para que o nefasto desaparecesse, mas agora, com a dama acolhida em meus braços, achava até bom que ele continuasse ali. Ficamos um minutinho fitando o outro, quase sassaricando e nos entregamos a um beijo suado.

Aquela menina… Vou te dizer, aquilo sim era beijo. Em quesito de calor, ela tinha nota dez. Não sei quanto tempo durou. Trinta segundos. Uma eternidade, talvez. Mas logo depois veio outro. E mais outro. E um que valia por dez. Era a apoteose, e foi quando eu perguntei:

- Por que não me diz o seu nome afinal? Me diga quem é você!
- Nomes… Deixe os nomes para amanhã. Me chame de Colombina, eu sou a porta-estandarte, sou a passista, a mulata. Eu sou só uma alegoria, ela disse, só uma fantasia.

E foi perfeito, até que tudo virou cinzas.